Quando me perguntam por que criei a Oncors, costumo dizer que ela nasceu de uma dor que me atravessou ainda criança — mas foi essa dor que me guiou até aqui.
Eu tinha 12 anos quando minha mãe foi diagnosticada com câncer em estágio avançado. Ela ficou internada por três longos meses. Três meses sem vê-la. Era fim de ano quando ela voltou para casa — não curada, mas para receber cuidados em internação domiciliar.
Foi um período duro, em que os gritos de dor dela me atravessavam a alma. As morfinas já não faziam efeito. Eu, uma criança, não sabia o que fazer, apenas sentia o desespero e o medo. Até que veio o momento de levá-la de volta ao hospital — e ali ela ficou.
O que senti naquela época é difícil descrever. Era tanto sofrimento, que quando terminou, meu choro não veio. Veio um certo alívio. Ela não estava mais com dor.
Foi nesse espaço entre a dor e a saudade que algo começou a nascer dentro de mim: um desejo profundo de aliviar o sofrimento dos outros.
Mais tarde, descobri a fisioterapia. Me formei em 2004, fiz pós-graduação em acupuntura e fui atuando em várias áreas. Em todas elas, o destino me conduzia aos pacientes oncológicos. Eu entendia aquela dor — não apenas a física, mas a emocional, a familiar.
Em 2010, conheci uma instituição em Santos que assistia pessoas com câncer. Eles trabalhavam com cestas básicas, higiene e nutrição. Apresentei um projeto que unia teatro, dança e técnicas de reabilitação. Deu tão certo que outras duas fisioterapeutas foram contratadas. Mas, em 2016, fui desligada.
Foi aí que entendi: eu precisava fundar algo que fosse além de uma clínica. Queria alcançar quem mais precisa, com cuidado, escuta e acolhimento.
Em 2017, comecei a planejar uma ONG em São Paulo. Mas a vida me levou para outro lugar: o Espírito Santo. E foi aqui que plantei essa semente. Em fevereiro de 2020, nasceu oficialmente a Oncors — ainda sem sede, mas com um coração gigante. Comecei com uma cadeira, minhas mãos e vontade.
A pandemia chegou, e o desafio ficou maior. Em setembro de 2020, conseguimos iniciar os atendimentos. Mas logo perdemos o espaço cedido. Passei a atender em domicílio, sem saber até quando.
Foi quando a Vanderléia apareceu em minha vida — psicóloga, voluntária, amiga. Encontramos um local. Ela alugou, equipou, acreditou. E aqui estamos até hoje, mas teremos novas mudanças para melhor!
A Oncors nasceu da dor, mas floresceu em solidariedade. Nosso cuidado é mais que técnico — é humano. Sabemos o que é perder o chão, e é por isso que fazemos questão de oferecer acolhimento com afeto e dignidade.
Porque ninguém deve enfrentar o câncer sozinho.
Fernanda Viana, fundadora da Oncors
Uma resposta